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O Brasil deve aumentar em torno de 10% as emissões de carbono em 2020, segundo o coordenador do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases do Efeito Estufa (SEEG), Tasso Azevedo. Em 2019, o Brasil registrou um crescimento de 9,6% na emissão de gases do efeito estufa, embora o Produto Interno Bruto (PIB) que indica o crescimento da economia tenha apresentado um aumento de 1%. Isso mostra que a emissão de carbono no País é descolada da geração de riqueza.

“A maioria dos países diminuiu as emissões em 2020 por causa da pandemia. No Brasil, esse aumento vai ocorrer principalmente por causa dos desmatamentos na Amazônia e no Pantanal”, explica Tasso Azevedo. Por setores, a maior emissão é feita pelo uso da terra, responsável por 44% do total em 2019. Em seguida, os setores que mais contribuíram para a emissão foram: agropecupária (28%), energia (19%), processos industriais (5%) e resíduos (4%). Em 2018, o uso da terrra contabilizou 40% das emissões.

O uso da terra contribui para aumentar as emissões primeiro com o desmatamento, segundo porque a madeira se decompondo também emite gases do efeito estufa; a floresta deixa de capturar o carbono; e quando a área desmatada é destinada a criação de gado, aumenta aumenta ainda mais a emissão, pois a criação de bovinos emite gás metano.

Também está sendo criticada por especialistas as novas metas de redução de carbono anunciadas no final do ano, que estabeleciam reduções, respectivamente, de 37% e 43% para 2025 e 2030 com relação as emissões de 2005. A primeira meta resultaria numa emissão de 1,3 giga tonelada(Gt) de CO2 em 2025 e a segunda em 1,2 giga tonelada (Gt) de CO2 em 2030. Com uma revisão apresentada pelo governo federal, esse número absoluto passou para 1,76 Gt em 2025 e 1,6 Gt em 2030. “O que é importante é o Brasil estar comprometido com o valor absoluto. Se qualquer conta levar a emitir mais, piorou a ambição”, resume Tasso. Nesse caso, ambição é a meta estabelecida anteriormente em valor absoluto.

Tasso afirma que o Brasil deveria estar fazendo uma transição para a eletrificação com um programa no qual o governo criasse incentivo e estímulos para essa nova fase, como por exemplo estabelecendo soluções para os carregadores dos carros elétricos dentro das cidades, entre outras. “Isso é o futuro do mundo e corremos o risco de ficar pra trás”, comenta.

É senso comum entre os especialistas do setor que não há uma articulação do governo federal, visando reduzir as emissões de carbono. “O Brasil está entre os seis maiores emissores de carbono do planeta. Estamos tentando suprir essa lacuna com um projeto que já conta com a participação de 19 Estados sugerindo ações na área de descarbonização da economia”, diz o coordenador de Articulação Política do Centro Brasil no Clima (CBC) e também ex-secretário de Meio Ambiente de Pernambuco, Sérgio Xavier.

“Se o Brasil não desmatasse e cuidasse da agropecuária já diminuía muito as emissões de carbono. O governo brasileiro não tem noção do prejuízo que isso pode causar ao setor privado. O mundo todo está investindo em iniciativas amigáveis ao meio ambiente e que contribuem para a redução das emissões de carbono”, conclui Sérgio Xavier.

*Entrevista publicada em 08/01/2021 no JC – Jornal do Commercio