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Neste documento, apresentamos as principais ações e iniciativas da nossa organização.


O ano de 2022 se anunciava desafiador desde o início. No cenário nacional, as eleições, nos níveis estadual e federal, representavam uma oportunidade ímpar de investir em ações que pudessem influenciar planos de governo e posicionamentos dos futuros chefes do Executivo nos estados, por meio da coalizão Governadores pelo Clima, articulada pelo Centro Brasil no Clima (CBC). O ano foi avançando e, um a um, os desafios foram sendo vencidos.

A equipe do CBC seguiu trabalhando no que sabe fazer melhor: articulação, engajamento, advocacy e produção de conhecimento para enfrentar a crise climática. Uma novidade foi o processo de estruturação da atuação do CBC a partir da reorganização de projetos e ações em programas.

Confira abaixo a carta do Diretor-executivo, Guilherme Syrkis, e no final baixe o relatório na íntegra.


Carta do Diretor-executivo

Durante a COP26, em 2021, tive o privilégio e a honra de participar de um debate sobre o clima com jovens engajados de diversos países e o ex-presidente dos EUA, Barack Obama. Após o evento, quando as câmeras já estavam desligadas, Obama fez um comentário que me surpreendeu profundamente. Ele perguntou se sentíamos certa crise existencial sobre o impacto real do que estamos fazendo. O ex-presidente compartilhou sua experiência e disse sentir a mesma dúvida, principalmente após ter alcançado o auge da carreira política tão jovem. Obama enfatizou que é normal sentir-se assim, e nos encorajou a perseverar com o coração aberto a aprender sempre e seguir com determinação.

Apesar das dificuldades impostas pela incerteza, instabilidade política e dificuldade de enxergar os reais impactos do que estávamos fazendo, a gestão do CBC realizou um esforço significativo para colocar a agenda climática em destaque nas eleições de 2022. No total, 54 candidatos(as) a governador de todos os estados do Brasil receberam as nossas propostas. Além disso, trabalhamos em parceria com governadores para aprofundar políticas climáticas nos estados, incluindo a criação do plano de Bioeconomia e do Financiamento Climático do Estado do Pará, com a participação ativa das comunidades locais. Muitas ideias que nasceram de nossas reuniões estratégicas e paradiplomáticas se tornaram iniciativas com total protagonismo dos estados e de seus governadores, como a criação de consórcios, fundos estaduais e selos verdes, entre outros resultados apresentados nas próximas páginas deste relatório.

Embora a equipe do CBC seja pequena, compreendemos que ninguém atua sozinho no terceiro setor e assim nos tornamos grandes. Reconhecemos que só poderemos avançar na pauta climática se tivermos espírito colaborativo, apoiando projetos de outras instituições parceiras e entendendo o nosso papel de facilitadores e articuladores. Tivemos muito sucesso com a estratégia do movimento Governadores pelo Clima, o que ficou ainda mais claro para mim ao ler um trecho do livro Banzeiro òkòtó: uma viagem à Amazônia Centro do Mundo. A autora, Eliane Brum, explica que “o melhor que pode acontecer com uma ideia é que ela seja incorporada por diferentes protagonistas a tal ponto que aqueles que iniciaram o percurso sejam superados – o que é diferente, claro, de serem apagados. É a melhor forma de os movimentos não terem dono, embora isso possa significar que aquilo que você pensou seja convertido em outra coisa, às vezes muito melhor, às vezes muito pior. Mas é assim que se faz a movência com todas as gentes”. Isso tudo nos faz compreender que devemos seguir com uma estratégia clara de apoio e colaboração a outras instituições porque só juntos e unidos podemos fazer avançar a agenda climática brasileira.

O ano de 2022 foi marcado por importantes iniciativas do CBC em relação ao trabalho de base. Uma delas foi o maior treinamento já realizado pelo Climate Reality Project, fundado por Al Gore, que formou mais de 3 mil líderes climáticos brasileiros, em um curso realizado totalmente em português. Além disso, o projeto de justiça climática das Cartas de Direito Climático teve início no Conjunto de Favelas da Maré, no Rio de Janeiro. O Programa Faz Junto avançou em projetos de apoio à produção de hidrogênio verde e recuperação ambiental na bacia hidrográfica do São Francisco, e as obras do Laboratório de Fernando de Noronha, que será um hub de inovação em tecnologias e modelos de negócio de carbono zero, já foram iniciadas. Mais detalhes sobre essas iniciativas serão apresentados nas
próximas páginas deste relatório.

Em termos organizacionais, fortalecemos ainda mais a governança do CBC no segundo ano de gestão do novo conselho e diretoria. Iniciamos um intenso processo de desenvolvimento de uma lógica de programas, que definiu claramente as áreas de advocacy, estudos, capacitação e execução de projetos inovadores em parceria com outras instituições. Também é importante destacar que buscamos capacitar nossas lideranças e nossos gerentes a partir da participação em cursos e treinamentos oferecidos pela Fundação Dom Cabral.

Além disso, fortalecemos a nossa cultura organizacional quanto a inclusão social e política de diversidade, incluindo o eixo racial, de orientação sexual e geracional, com o auxílio de consultoria especializada e dando autonomia para a equipe desenvolver a estratégia. Por fim, definimos uma estratégia clara para o CBC com foco em quatro grandes temas em 2023, a partir de um novo contexto político.

O primeiro é a Governança Climática em que buscamos alinhar a estratégia do novo governo federal para fortalecer os governos estaduais e facilitar a busca de financiamento climático e a implementação de projetos estruturantes. Continuaremos atuando no Senado Federal dando suporte à Comissão de Meio Ambiente e, quem sabe, contribuindo para a volta da extinta Comissão Mista de Mudanças Climáticas.
O segundo é a Transição Energética, em que trabalharemos próximos ao Climate Reality Project Internacional na estratégia de debater de forma contundente a exploração de petróleo e gás para a COP28, nos Emirados Árabes, no final de 2023. Trabalharemos para que a Petrobras e outras empresas tenham uma visão clara em relação à transição energética e se modernizem diante da perspectiva de uma acelerada transformação no setor de óleo e gás para eólica offshore e outras fontes.
O terceiro é a Justiça Climática, com o fortalecimento do trabalho das pequenas, mas poderosas ONGs locais que não têm capacidade de interlocução com governos e que podem ter seus trabalhos potencializados por nós, principalmente em adaptação climática e biodiversidade.
Por fim, intensificamos o trabalho com a bandeira da Educação Climática pelo Brasil, buscando aprovar leis de obrigatoriedade do tema nas ementas das escolas.

O Centro Brasil no Clima tem amadurecido internamente e, em um novo contexto político, teremos oportunidades incríveis para acelerar as mudanças necessárias para avançar na agenda climática.
Como diria meu saudoso pai, que costumava citar Fernando Pessoa, “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. Continuaremos avançando com determinação, mesmo que às vezes surjam incertezas sobre o impacto real do nosso trabalho, mantendo um coração leve de aprendiz. Nosso compromisso é trabalhar incansavelmente com o tema mais preocupante da nossa geração.

Guilherme Syrkis
Diretor-executivo do Centro Brasil no Clima