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Em muitas conversas, do botequim a reuniões de fundos de investimentos, aumentaram as especulações sobre o valor do “crédito de carbono”. Sempre defendo que nunca deveriam ter usado o termo “crédito” nesse mecanismo pois gera muita confusão, particularmente com ideias de crédito financeiro. É melhor chamar apenas de um “ativo” ambiental, pois isso vem assustando a turma da especulação, achando que um novo “gold rush” está diante de nós. Muita calma nessa hora. Nem mesmo as reuniões em Davos foram suficiente para gerar uma “corrida”, mas certamente aqueceu a lista de temas nas rodas econômicas e corporativas. Tudo isso é um ótimo sinal.

O Hawaii recentemente teve uma iniciativa de regular o preço do carbono em mercado regional no valor de US$ 40.00. O estado americano do Hawaii pode estar certo, como pode estar tremendamente errado. Porém, muita gente esquece que o famoso sistema europeu ETS (Emission Trading System) havia estabelecido valores de multas nesse valor há anos atrás, visando as empresas ou emissores de GEE (gases de efeito estufa) que não cumprissem com reduções pré-estipuladas (um sistema Cap&Trade). Mas nada de realmente fantástico aconteceu naquele mercado e acabou acompanhando a tendencia geral de redução das atividades, pois falta um sistema regulatório internacional, dos acordos multi-laterais. O Hawaii, entretanto, toma uma medida corajosa e demonstra que o sistema regulador daquele Estado americano realmente tem poderes que podem ser exercidos.

Na busca por estabelecer, ou mesmo compreender o comportamento de preços para o carbono, o debate é multi-facetado e ninguém está certo totalmente. Aparentemente é o que dizem as melhores mentes que discutem o tema, nas melhores casas e famílias acadêmicas. Mas certamente existe um “ator” que, por sua natureza, está mais próximo do “centro da balança”, este é o Gestor Publico (governos). Quando governos, em quaisquer jurisdição (federal, estadual ou municipal) resolve fazer algo para mudar uma situação de estagnação, isso sim pode realmente contribuir para o sucesso de um mecanismo de mercado que ajuda tudo e a todos. No Brasil, aparentemente, os estados da federação estão dissonantes do governo federal, e penso que até corretamente. A política ambiental de CLIMA do governo federal demonstra ser coisa da Idade Media e os governadores mais astutos e visionários estão ocupando este espaço corretamente, inchalá… 

Economistas estão sempre mais longe do centro e erram mais…pois debatem elucubradas teorias econômicas, com alto grau de incertezas, viagens de ego, orgulho e prepotência, mas SEMPRE são os atores que mais ajudam quem está com as mãos na massa. Isso é uma certa contradição e de fato muito útil, pois esses debates, por mais complexos que sejam, permitem que os atores de mercado façam reflexões mais embasadas. O pessoal do Marketing adora vender narrativas, as atuais modas do “storytellings” e vão aos meios de comunicação e jogam ao vento muitas ideias. As ações intuitivas dos diferentes market players aumentam e o mercado liga os motores. Os cientistas políticos, economistas, geopolíticos, etc. sempre se baseiam em em teorias que os obliteram a intuir, mas nos ajudam muito com sua enorme credibilidade, pois sabem construir pensamentos e visões de um futuro inexorável.

Mesmo que os gestores públicos tenham que ser pragmáticos, os atores de mercado arriscam e até brincam com a sorte e com as possibilidades. Aprendem com o tempo uma inteligência rara, para o desespero dos reguladores. A inteligência de saber ler as Séries Temporais e os mercados futuros com seus modelos especulativos. O jogo começa e as diferentes ferramentas de mercado são testadas e aprimoram as relações entre os reais produtores e consumidores de bens e serviços.

Se o preço ideal do carbono é 40, 100, 200 ou 400, tudo dependerá dos instrumentos regulatórios que irão levar os diferentes atores para o páreo, tirar os ratos das tocas, expor as vísceras do problema. Esses atores são os suspeitos de sempre: empreendedores, desenvolvedores, especuladores, investidores e aqueles com capital para fazer as máquinas funcionarem.

Porém, sem os instrumentos reguladores que só os governos podem propor e instalar, nada acontecerá. Se não houver obrigações a cumprir pelos diferentes setores e TAMBÉM os mecanismos de mercado para criar a competitividade e eficiência dos processos, pouca chances temos de superar os problemas de mudanças climáticas que são advindos da evolução da economia globalizada. Assim, na minha visão, sem instrumentos de “enforcement” o preço do carbono será abaixo de US$ 1.00/ton e apenas com instrumentos de “enforcement” os valores irão superar os US$ 10.00/ton. 

Ou seja, os mecanismos reguladores tem que existir e até mesmo criar processos coercitivos de mudança de comportamento dos setores. Mas se apenas regularem de maneira unilateral, irão estrangular o desenvolvimento e é para isso que os mecanismos de mercado do tipo “Cap and Trade” servem. Eles permitem que o conjunto dos atores busquem meios de aumentar a eficiência do processo através da relação regulada que estabelece valores como resultado das relações. Isso sim é uma economia viva entre as entidades privadas. E o sistema regulatório evolui e se aprimora, se aperfeiçoa e cerca os espertinhos…

Na minha opinião, o restante é o velho “wishful thinking”, isto é, uma mera visão de esperança que o ser humano irá vencer no final da história, uma novela a mais. Não vai…todos perderemos se não nos pautarmos numa forma inteligente de regular os mercados e criar espaço para a criatividade e eficiência dos atores. Sem isso, continuaremos indo às COPs da Convenção do Clima, cheios de esperança e retornando frustrados…

Uma especial atenção deve ser dada ao fator do PETRÓLEO, em especial com suas flutuações de preço no mercado internacional. Se o petróleo mantiver sua tendencia de baixos preços, provavelmente seu uso irá aumentar e as emissões globais por óbvio aumentarão num momento muito crucial para as perspectivas do futuro da humanidade. Com isso, os mecanismos de compensação, como os instrumentos de mercado assumirão um papel ainda mais relevante. Entretanto, nao podemos apenas depender desses mecanismos que foram desenhados e estabelecidos como “ponte” para um futuro de uma economia de baixo carbono. Isso é muito sério e não deveríamos usar desses mecanismos de maneira irresponsável como demonstram os líderes do setor do PETRÓLEO.

Mercados são quase que seres vivos…você nunca sabe o que vai acontecer, mas se você não acordar cedo e buscar compreender como será o fim do dia, provavelmente quem não vai ver o fim do dia será você.

Continuemos a refletir:

https://luxtimes.lu/world/39973-the-true-price-of-carbon