Gibran Oliveira*, para o Prática ESG | 15 de out. 2023
O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) prevê um rápido aumento de 4,5°C na superfície da Terra e a diminuição de 50% das chuvas até 2100, causado pelas emissões de gases de efeito estufa que teve início durante a revolução industrial. Atualmente, os países de alta renda representam 86% da poluição global e os países de baixa renda emitem 14% da poluição mundial.
Embora os países menos poluidores são os que mais sofrem com as mudanças climáticas, como insegurança e conflitos por recursos, desastres naturais e refugiados e imigrantes climáticos. Nós estamos mudando mais rapidamente as condições naturais do planeta pela primeira vez na história. E, infelizmente, não é algo favorável para nós e para o planeta.
Agora é hora de mudar nosso pensamento e estilo de vida. Usando a nossa capacidade econômica, política, científica e a biodiversidade para salvar a vida na Terra.
Os países responsáveis pela maior emissão dos gases de efeito estufa atualmente são China (27%), Estados Unidos (15%), União Europeia (10%), Índia (7%), Rússia (5%), Japão (3%), Irã (2%), Arábia Saudita (2%), Coreia do sul (2%) e Canadá (2%). Porém ao avaliarmos os países que mais emitiram poluentes ao longo de toda história encontramos os Estados Unidos (25%), União Europeia (22%), seguidos da China (13%), Índia (3%). Enquanto todos os países da África e América do sul totalizam apenas 3% das emissões em cada continente.
A sustentabilidade dos países desenvolvidos está ligada com a exploração e consumo histórico dos bens produzidos em países mais pobres e populosos, como a China e a Índia. Enquanto os países em desenvolvimento poluem para sobreviver e se adequar a economia mundial. Os países mais desenvolvidos poluem pelo alto padrão de riqueza e consumo.
Em 2020, ocorreu a 27ª edição da Conferência do Clima (COP 27) no Egito. Onde foram reafirmados os compromissos em conter o aquecimento global da terra em 1,5º C. Também foi criado um fundo financeiro para os países mais vulneráveis aos desastres climáticos. Além de um plano transição energética e corte de emissões dos gases do efeito estufa até 45% em 2030 e para emissão zero em 2050, o Sharm el-Sheikh Adaptation Agenda. Somente com a ação conjunta de todas as nações vai ser possível reverter esse cenário.
Portanto, compreender como as áreas vulneráveis com condições ambientais extremas serão afetadas servem de ótimos modelos para prever e planejar como nos adaptar, mitigar e resistir aos efeitos das mudanças climáticas no futuro.
A Caatinga é uma das maiores regiões áridas, mais ameaçada e menos estudada em todo mundo. E os cenários sugerem que a Caatinga se tornará mais quente, mais seca e mais deserta. Haverá menos áreas adequadas e um alto risco extinção para uma grande parte da biodiversidade e comunidades humanas. Além de outros efeitos que repercutirão em toda sociedade.
As plantas e os animais são responsáveis por manter o equilíbrio e a saúde no meio ambiente, incluindo o controle do fluxo de água no céu, na terra e nos rios. Além da energia e dos alimentos que chegam a nossa mesa. Respiramos a natureza o tempo todo. Ela nos protege e à todas as formas de vida. E a matemática é simples, os animais protegem e mantém as florestas de pé e as florestas protegem os animais. Enquanto nós, seres humanos, dependemos de ambos para nossa saúde, alimentação, economia e tecnologia.
Por isso, em 2019 pesquisadores brasileiros iniciaram uma avaliação dos efeitos das mudanças climáticas sobre as plantas e mamíferos da Caatinga, o que gerou uma lista de espécies que podem ser extintas no futuro e as áreas prioritárias para conservação. Esses trabalhos fomentam previsões ecológicas para nos adaptar e mitigar os impactos climáticos nas comunidades naturais e humanas.
Apenas os animais e as plantas mais resistentes que conseguem atingir grandes distâncias e que se beneficiam das atividades humanas serão menos afetadas. Embora, isso causará desequilíbrios ambientais que refletem na saúde e na disponibilidade de recursos. A extinção das espécies será desastrosa para todos que vivem dentro e fora da Caatinga. Além do mais, ainda não sabemos a dimensão dos impactos das mudanças climáticas sobre a biodiversidade dos outros biomas brasileiros.
Os desastres ambientais e o acúmulo dos colapsos ecossistêmicos aumentarão a frequência e intensidade de desastres extremos, como incêndios, ondas de calor, desmoronamentos, enchentes, a elevação do nível do mar, e uma estiagem prolongada pela falta de chuva e de água nos rios e florestas. À medida que as alterações climáticas continuam a destruir habitats e meios de subsistência, as doenças infecciosas também podem se espalhar mais facilmente e rapidamente pelas populações, como aconteceu com a Covid-19. Por isso, as previsões das pesquisas são importantes para sabermos o que devemos proteger e onde devemos agir mais rápido.
Parte da população não sente diretamente os resultados negativos dos impactos humanos e das mudanças climáticas a curto prazo. A justiça climática deve atuar para proteger grupos mais vulneráveis, historicamente marginalizados e privados de oportunidades. Por exemplo, as populações em áreas de alto risco, comunidades rurais e de baixa renda, os povos indígenas, extrativistas, quilombolas, as pessoas negras e de cor, as mulheres e a comunidade LGBTQIA+. Para isso, é necessário uma política e planejamento socioambiental à longo prazo. Considerando, principalmente, as evidências e as previsões científicas. É essencial que líderes, políticos, tomadores decisões e a população brasileira sejam informados.
Agora, precisamos usar nosso poder econômico, político e científico para reverter os cenários pessimistas do futuro. As florestas sempre foram as melhores reguladoras dos gases de efeito de estufa e outros poluentes. Os animais sustentam as florestas, eles mantêm os serviços ecológicos e a ciclagem da energia. Proteger, preservar e gerir a natureza é a melhor, mais viável e mais adequada solução para o destino da humanidade.
Portanto, nós devemos investir em iniciativas sustentáveis, energias renováveis, em processos industriais mais eficientes, em transportes ecologicamente corretos, na redução no consumo de carne e no aumento no consumo de alimentos produzidos localmente seguindo as estações do ano. Além de medidas de adaptação, como o investimento em sistemas de agricultura resilientes, delimitar áreas de risco, realizar a vigilância sanitária e epidemiológica. E acima de tudo, redescobrir nossa história e relação com a natureza e com o nosso consumo. E assim garantiremos o nosso futuro e o futuro das próximas gerações.
*Gibran Oliveira é biólogo e pesquisador brasileiro pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), líder climático do Climate Reality Project Brasil, rede de líderes climáticos fundada por Al Gore representada, no país, pelo Centro Brasil no Clima (CBC).
Fonte: Jornal Valor