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*Olga Martins Wehb

A interconexão e a importância da governança climática no contexto brasileiro contemporâneo são inquestionáveis, considerando a relação intrínseca entre os aspectos econômicos, sociais e ambientais do desenvolvimento sustentável. O Brasil, com seu extenso território e diversidade biológica, tem um notável potencial para liderar iniciativas internacionais no enfrentamento das mudanças climáticas e na promoção de práticas ecológicas, abordando simultaneamente as desigualdades socioeconômicas.

Além disso, o Brasil tem investido em iniciativas de governança climática, com o objetivo de fortalecer sua posição no cenário internacional, atraindo investimentos e parcerias estratégicas em setores-chave da economia verde. Ao estabelecer metas ambiciosas, e alinhadas com o Acordo de Paris e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, o país poderá comprovar seu compromisso com a responsabilidade ambiental e a cooperação global.

Nesse contexto, é importante salientar que a governança climática e a segurança alimentar são questões interligadas enfrentadas pelo Brasil e também por outros países. De acordo com uma pesquisa divulgada pelo FGV Social, com base em dados do Instituto Gallup World Poll, em 2021, a insegurança alimentar atingiu 36% da população brasileira, que já enfrenta dificuldades no acesso a alimentos nutritivos e saudáveis. A pandemia da COVID-19 intensificou essa situação, aumentando a vulnerabilidade das famílias em situação de pobreza e exacerbando a desigualdade social.

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Percentual de pessoas em situação de insegurança alimentar no Brasil vem aumentando desde 2014 / Arte/CNN
https://www.cnnbrasil.com.br/economia/inseguranca-alimentar-atinge-36-do-brasil-revela-pesquisa/

A crise climática impõe desafios adicionais à segurança alimentar, como eventos climáticos extremos – incluindo secas e inundações – que afetam a produção agrícola e a distribuição de alimentos. Além disso, as mudanças climáticas impactam diretamente a biodiversidade e a qualidade dos solos, comprometendo a produtividade agrícola e a segurança alimentar a longo prazo.

Um estudo recentemente divulgado na revista Science enfatiza o crescente fenômeno de secas súbitas resultantes das mudanças climáticas. Esses fenômenos, também conhecidos como “flash droughts”, são provocados pelo calor extremo que extrai a umidade das plantas e do solo, causando danos significativos à agricultura e deixando marcas.  A pesquisa aponta a região amazônica como uma área suscetível a esse tipo de seca, conforme especialistas internacionais e estudos. (*(https://valor.globo.com/mundo/noticia/2023/04/15/com-terra-mais-quente-mais-secas-repentinas-sugam-o-solo.ghtml)

Diante desses enormes desafios, é necessária a adoção de políticas públicas abrangentes e integradas para tratar das causas e dos impactos das mudanças climáticas na segurança alimentar, englobando algumas estratégias relevantes:

  1. Fomentar a agricultura sustentável e adaptada ao clima, promovendo práticas agrícolas eficientes e resilientes a eventos climáticos extremos.
  2. Estimular a pesquisa e inovação em tecnologias agrícolas, visando desenvolver soluções sustentáveis e resilientes.
  3. Apoiar a produção local de alimentos saudáveis e nutritivos, incluindo a agricultura familiar e a implementação de infraestrutura adequada para armazenamento e transporte de produtos.
  4. Investir em programas de assistência alimentar voltados às famílias mais vulneráveis, assegurando acesso apropriado a alimentos nutritivos e saudáveis.
  5. Reforçar a rede de segurança alimentar por meio de programas de assistência alimentar, incentivo ao desenvolvimento de mercados locais de alimentos e fomento à produção de alimentos orgânicos e sustentáveis.

A crise climática representa um desafio substancial à segurança alimentar no Brasil, mas também oferece oportunidades para o desenvolvimento de soluções sustentáveis e resilientes. É imprescindível que as políticas públicas sejam embasadas em evidências científicas e contem com a participação da sociedade civil e do setor privado na busca por garantir a segurança alimentar no país. Portanto, a colaboração entre as diferentes esferas governamentais e setores da sociedade é crucial para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas e suas implicações na segurança alimentar e no bem-estar da população. Ao promover ações coordenadas e sustentáveis, o Brasil pode se tornar um exemplo global na implementação de práticas de governança climática eficazes e no combate às desigualdades socioeconômicas.

*Olga Martins Wehb é socióloga e consultora sênior no Centro Brasil no Clima