Relatório aponta desafio enorme e necessidade de aceleração na redução de emissões
Ritmo menor no crescimento das emissões de gases e queda de custo das tecnologias de baixo carbono são pontos positivos
O mais novo relatório do Grupo de Trabalho III, do IPCC, painel intergovernamental sobre mudanças climáticas, ligado à ONU, aponta que as emissões líquidas totais de GEE (Gases de Efeito Estufa) continuaram a aumentar no período de 2010 a 2019, apesar do ritmo ser menor em relação ao período anterior. No documento, os integrantes do Grupo de Trabalho III destacam o crescimento no número de políticas e leis que tratam da mitigação de GEE, o que levou à prevenção de emissões e aumentou o investimento em tecnologias e infraestrutura de baixo carbono.
“O desafio continua sendo enorme. O relatório mostra que é necessária uma grande aceleração na redução de emissões. A partir do documento é possível concluir que para limitarmos o aquecimento a 1.5ºC é imprescindível que se alcance o pico de emissões de GEE até 2025”, explica William Wills, diretor de projetos do Centro Brasil no Clima – CBC.
O relatório reforça que o benefício econômico global de limitar o aquecimento a 2°C excede o custo de mitigação na maioria da literatura avaliada. Infelizmente, o progresso no alinhamento dos fluxos financeiros com as metas do Acordo de Paris segue lento e os fluxos financeiros climáticos foram distribuídos de forma desigual entre regiões e setores. Assim, estão aquém dos níveis necessários para atingir as metas de mitigação em todos os setores e regiões. Esse desafio é ainda maior nos países em desenvolvimento.
“Reduzir as emissões de GEE requer grandes transições, incluindo uma redução substancial no uso de combustíveis fósseis. Além disso, é necessária a implantação de fontes de energia de baixa emissão, a mudança para modais de transportes mais eficientes e de baixo carbono, aumento da eficiência energética e da conservação de energia. O relatório deixa claro que novos investimentos em infraestrutura de combustíveis fósseis irão travar as emissões de GEE em um nível elevado e não compatível com os objetivos do Acordo de Paris”, explica Wills.
Uma boa notícia é que os custos unitários de várias tecnologias de baixo carbono caíram continuamente desde 2010. “As políticas de inovação permitiram essas reduções de custo e apoiaram a adoção global dessas tecnologias. Entretanto, a inovação não se deu por igual ao redor do mundo, ficando para trás especialmente nos países em desenvolvimento” destaca o diretor de projetos do Centro Brasil no Clima – CBC.
O Grupo de Trabalho III reforça, na conclusão do relatório, que uma boa governança climática é imprescindível para a transição, fornecendo uma estrutura sólida para a interação de diversos atores no sentido de desenvolver e implementar políticas. É importante lembrar que essa arquitetura é mais eficaz quando são integrados vários domínios de políticas e são conectados níveis de formulação de políticas nacionais e subnacionais.