Fonte: Brasil de Fato | Rodolfo Rodrigo
O que você faria se pudesse prever os impactos das mudanças climáticas na Caatinga? O bioma único, que se espalha pela região Nordeste do Brasil, abriga uma incrível diversidade de espécies de plantas e animais que não são encontradas em nenhum outro lugar do mundo, mas que vem sendo ameaçada pelas mudanças climáticas.
A pesquisadora Ana Cláudia Oliveira realizou um estudo que aponta indicadores ecológicos para monitorar estes impactos na Caatinga. A pesquisa é fruto da sua tese de doutorado.
“Desenvolvi um projeto que teve como objetivo utilizar indicadores ecológicos, nomeadamente a diversidade da biodiversidade, como ferramenta para monitorar e consequentemente prever de forma precoce os impactos climáticos sob o ecossistema, nomeadamente os aspectos relacionados com a desertificação da floresta seca do Nordeste do Brasil, a nossa Caatinga”, explica a pesquisadora.
O estudo foi desenvolvido em parceria entre o Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental (NEMA) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (ULisboa). Pela sua importância, a pesquisa ganhou o prêmio na categoria de Tecnologias e Ciências Naturais do Prêmio Científico Mário Quartin Graça.
O prêmio é concedido anualmente pela Casa da América Latina para as melhores teses desenvolvidas por pesquisadores portugueses ou latino-americanos. A pesquisa intitulada “Indicadores ecológicos como ferramentas para monitorar os efeitos das mudanças climáticas em florestas tropicais secas” conclui que o aumento da aridez, causado pelas mudanças climáticas, poderá prejudicar a biodiversidade e as funções ecossistêmicas da caatinga.
A biodiversidade da Caatinga é bastante estudada justamente por incluir espécies adaptadas às condições do semiárido, como plantas com espinhos e raízes profundas que permitem a sobrevivência em solos secos e árvores com troncos e cascas resistentes ao fogo. Mas nos últimos anos, essas características do bioma não têm resistido às alterações humanas e a Caatinga sofre com a ameaça de desertificação.
Com a realidade das mudanças climáticas, aumenta a necessidade de prever os efeitos das alterações do clima em florestas tropicais secas a fim de pensar em estratégias que diminuam os impactos negativos e previnam a desertificação.
Ana Cláudia destaca algumas medidas preventivas que podem auxiliar na preservação da caatinga. “Nós podemos adotar medidas preventivas oportunas, por exemplo: a conservação de florestas remanescentes e repensar ações de restauração ecológica introduzindo espécies com características funcionais específicas, como o uso de plantas que tenham dispersão de frutos via animais. Além disso, espero que isso faça nós atuarmos de maneira sustentável sobre o manejo desse ecossistema”, exemplifica.
A pesquisa, que representa um avanço na compreensão dos impactos das mudanças climáticas na caatinga pode ser acessada na íntegra no site da ULisboa.