Zero surpresa. Ocorreu na COP 25, em Madrid, aquilo que eu já previra na sua abertura. Nenhum progresso significativo para mais ambição, quer dizer, reforçar as metas dos países, nas suas NDCs –que, aliás, não parecem em caminho de serem cumpridas por muitos deles- e encontrar mecanismos de financiamento para a descarbonização, a famosa negociação do artigo 6º, que mais uma vez não deu em nada.
A novidade em relação às outras COPs foram os vilões. Antes eram sobretudo Arábia Saudita, Rússia, Venezuela e o chamado grupo dos like-minded. Agora são os EUA, de Donald Trump, a Austrália (em chamas), de Scott Morrison e o Brasil, de Jair Bolsonaro. Na verdade, o Brasil veio partido em 3 delegações: o grupo do anti-ministro que pouco entendia do que estava sendo negociado e chegou para produzir factoides para a mídia brasileira as suas redes sociais; o Itamaraty, impotente, entrincheirado em velhas posturas como aquela da “dupla contagem” e totalmente escanteado naquele papel de articulação que costumava exercer e a delegação sociedade civil brasileira, dessa vez excluída, com gente trazendo credenciais do Chile, do Egito e de uma pletora de entidades internacionais para poder entrar na chamada “Zona Azul”.
Diferente de quase todos os outros países cujos pavilhões eram dos governos, o nosso foi da sociedade civil, organizado pelo Instituto Clima e Sociedade (ICS) e virou o ponto de encontro e debate dos ativistas, cientistas, indígenas, governadores, prefeitos, parlamentares e jovens, brasileiros e de outros países. Houve certos avanços parciais: a Colômbia e a Indonésia conseguiram um Fundo tipo Amazônia para eles. O nosso o governo Bolsonaro paralisou e descartou com prejuízos bilionários. Os estados da Amazônia assinaram termos de cooperação que podem ter resultado. Ajudei a articular um deles.
O fato mais positivo pode ter sido o anúncio da União Europeia se comprometendo, unilateralmente, como uma meta de neutralidade de emissões em meados do século no que pese a resistência da Polônia. Também avançaram no estabelecimento de uma tarifa verde para importações. Mas a Europa não é decisiva. A chave está nas mãos da China, Índia e EUA. O Brasil, Japão, Indonésia e Rússia têm um peso significativo. Uma andorinha não faz verão…
As COPs sempre apresentam algum pequeno progresso colateral e são um momento de encontro, debate e reverberação da questão climática. Mas na questão central: redução significativa das emissões para tirar o planeta da trajetória de 4,5 graus (inferno na terra) em que esta embalada ou como financiar a descarbonização e a adaptação, estamos empacados enquanto as consequências se descortinam aos nossos olhos e a literatura sobre o tema torna-se simplesmente apocalíptica como uma leva de livros novos similares ao que estou lendo, terrível, de David Wallace-Wells “A Terra Inabitável”. Meus amigos, está punk.
Durante os próximos anos não temos muito que esperar da imensa maioria dos governos nacionais pateticamente paralisados quando não negacionistas . A fresta de caminho que reste é uma revolução no valor econômico que dê ao menos-carbono status do “novo ouro”. Há que trabalhar com os estados, regiões, empresas, prefeituras e a mobilização da sociedade civil, sobretudo dos jovens. Há que mobilizar centenas de milhões de pirralhas Greta para inundar as ruas do planeta.
Uma rima caminho de solução…