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William Wills*

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) publicou, no início desta semana, o seu tão aguardado relatório síntese do Sexto Relatório de Avaliação (AR6) sobre Mudanças Climáticas. O documento, que contém informações detalhadas sobre o estado atual das mudanças climáticas e suas possíveis consequências, destaca a urgência para a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE), como uma questão de sobrevivência para milhões de pessoas em todo o mundo.

De acordo com o relatório, a crise climática pode se transformar em uma crise humanitária, tornando a redução das emissões de GEE uma necessidade premente. Este é o último relatório do IPCC antes de 2025, ano em que as emissões globais de GEE devem começar a diminuir em cenários compatíveis com a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C. Em outras palavras, as informações e análises apresentadas neste relatório são as mais detalhadas e precisas que teremos até 2025, e devem ser utilizadas como base para uma ação climática urgente.

O novo relatório do IPCC aponta, mais uma vez, que as emissões de gases de efeito estufa causadas pela atividade humana estão provocando o aquecimento global e gerando impactos adversos em todo o mundo, tanto para a natureza quanto para as pessoas. O documento alerta que os impactos projetados a longo prazo serão muitas vezes maiores do que os já observados atualmente.

Para limitar o aquecimento futuro, o relatório destaca a necessidade urgente de reduções profundas, rápidas e sustentadas nas emissões de gases de efeito estufa. Além disso, enfatiza que as opções de adaptação viáveis hoje se tornarão cada vez mais limitadas e menos eficazes com o aumento do aquecimento global.

As NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) apresentadas em 2021 tornam mais provável que o aquecimento global ultrapasse a barreira dos 1,5oC, e dificulta consideravelmente o alcance da meta de 2oC. Segundo o relatório, emissões líquidas zero de CO2 são necessárias para limitar o aquecimento a 1,5°C ou 2°C. No entanto, as emissões projetadas de CO2 das infraestruturas existentes de combustíveis fósseis, sem abatimento adicional, já excederiam o orçamento de carbono restante para 1,5°C.

Apesar do progresso notável no enfrentamento das mudanças climáticas, ainda há muito trabalho a ser feito para alcançar as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris. De acordo com um novo relatório, as lacunas na adaptação e mitigação continuam a crescer, já que as taxas atuais de implementação são consideradas baixas, dada a urgência climática em que nos encontramos.

Para cumprir as metas do Acordo de Paris, o relatório aponta objetivos ambiciosos de redução global de emissões de GEE por período. Essas metas de redução incluem atingir o pico de emissões até 2025, redução de 43% até 2030, redução de 60% até 2035, redução de 69% até 2040 e redução de 84% até 2050. Essas metas ambiciosas são consideradas cruciais para mitigar os impactos das mudanças climáticas em todo o mundo e garantir que as metas do Acordo de Paris sejam atingidas.
 
Algumas das principais recomendações do relatório são:

  1. Implementar ações climáticas integradas e ambiciosas no curto prazo para evitar o aquecimento global e seus impactos negativos. Cada décimo de grau centígrado de aquecimento salvará vidas e evitará danos à biodiversidade e à infraestrutura.
  2. Alinhar ações de mitigação e adaptação em todos os setores e sistemas para garantir reduções profundas e sustentáveis de gases de efeito estufa e um futuro sustentável para todos.
  3. Acelerar ações equitativas na mitigação e adaptação aos impactos das mudanças climáticas para promover o desenvolvimento sustentável.
  4. Priorizar processos de equidade, justiça climática, justiça social, inclusão e transição justa para permitir a adaptação e ações de mitigação ambiciosas e um desenvolvimento sustentável resiliente ao clima.
  5. Garantir uma ação climática eficaz por meio de compromissos políticos ambiciosos, governança multinível bem alinhada, estruturas institucionais, leis, políticas e estratégias e maior acesso a financiamento e tecnologia.
  6. Redirecionar investimentos e capital para a ação climática e aprimorar os sistemas de inovação tecnológica para acelerar a adoção generalizada de tecnologias e práticas.
  7. Reforçar a cooperação internacional através de múltiplos canais, incluindo finanças, tecnologia e governança, que são facilitadores essenciais para uma transição climática acelerada.
  8. Acelerar os esforços para promover a transição energética, descontinuando os investimentos em novas estruturas de produção de combustíveis fósseis.

William Wills é Diretor de Projetos do Centro Brasil no Clima – CBC