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Em um cenário empresarial e financeiro cada vez mais orientado para a responsabilidade e sustentabilidade, os conceitos de ESG (Ambiental, Social e de Governança) e sustentabilidade emergem como fundamentais, embora distintos, na condução de uma gestão empresarial responsável. Este artigo explora essas distinções e interconexões, destacando os desafios e perspectivas para empresas e investidores comprometidos com um futuro sustentável.
Sustentabilidade: Visão Ampliada para o Futuro
A sustentabilidade vai além da lucratividade imediata, visando garantir que as atividades humanas ocorram de forma a preservar o meio ambiente, promover a equidade social e assegurar a viabilidade econômica a longo prazo. Desde os anos 1970, fóruns internacionais têm debatido o papel das empresas nessa transição, culminando em diálogos multistakeholder nas décadas seguintes. Diretrizes como as da Global Reporting Initiative (GRI) e normas como a ISO 26000 refletem esse compromisso com a responsabilidade corporativa e ambiental.
ESG: Avaliando o Impacto Corporativo
O surgimento do ESG está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. No entanto, é crucial não aderir ao ESG somente por ganhos comerciais. O Google Trends mostra uma busca crescente por ESG em detrimento dos ODS, refletindo o destaque no mercado financeiro e empresarial. Esse movimento converge com a agenda de sustentabilidade, buscando uma sociedade economicamente próspera e ambientalmente viável.
Diferenças Essenciais e Sinergias Potenciais
ESG e sustentabilidade são complementares. Enquanto a sustentabilidade fornece uma visão abrangente, o ESG oferece ferramentas específicas para avaliação e medição do desempenho empresarial. Maximizar o impacto do ESG requer compreensão clara das interconexões ambientais, sociais e de governança, integrando práticas em uma estratégia de sustentabilidade mais ampla.
Greenwashing e Regulação dos Aspectos ESG: Análise Necessária
Nos últimos anos, o crescente interesse por investimentos sustentáveis tem dado origem a uma diversidade de fundos de investimento que incorporam critérios ESG (Ambiental, Social e de Governança) em suas estratégias de seleção de ativos. No entanto, esse rápido desenvolvimento da indústria de investimentos sustentáveis
suscita preocupações quanto à comunicação eficaz dos critérios ESG pelos fundos, muitas vezes resultando em práticas de “greenwashing” — promessas exageradas ou desconectadas da realidade. Um estudo recente examina a importância da regulação das práticas de greenwashing por gestores de fundos de investimento no Brasil. A avaliação empírica de dados e pesquisas nacionais revela que muitos investidores brasileiros negligenciam os aspectos ESG devido a problemas de assimetria informacional com os emissores, incluindo os gestores de fundos. Além disso, os gestores enfrentam o risco de uma seleção adversa, favorecendo participantes pouco comprometidos com a agenda ESG, sugerindo falhas de mercado decorrentes de assimetrias de informação.
Uma análise comparativa de estratégias regulatórias adotadas em diferentes regiões do mundo para mitigar o greenwashing revela duas abordagens principais. Por um lado, uma regulação mais liberal nos Estados Unidos, focada nas restrições sobre o nome dos fundos e no cumprimento de regras tradicionais. Por outro lado, uma abordagem prescritiva por comando e controle na União Europeia, que exige uma divulgação mais detalhada dos aspectos ESG. Os achados preliminares dos dados empíricos coletados nesses sistemas jurídicos indicam que as regras prescritivas europeias resultaram em uma significativa reclassificação de fundos de investimento quanto ao grau de aplicação de aspectos ESG, sem prejudicar o crescimento da indústria na região. Além disso, os fundos sustentáveis europeus demonstraram maior aderência às metodologias de avaliação ESG em comparação aos fundos norte-americanos, sugerindo uma maior eficácia no combate ao greenwashing.
No contexto brasileiro, é importante considerar cautelosamente os impactos das estratégias de regulação dos aspectos ESG nos fundos de investimento. Embora a adoção de mecanismos de autorregulação inspirados em modelos europeus e norte-americanos possa inicialmente impor custos regulatórios significativos aos gestores, é fundamental equilibrar esses requisitos com os objetivos de desenvolvimento sustentável e transparência no mercado. Uma abordagem mais flexível e simplificada das exigências de divulgação na autorregulação pode ser benéfica para o mercado brasileiro, garantindo a confiança e comparabilidade das informações para os investidores. Este processo visa promover uma indústria de investimentos sustentáveis mais transparente e responsável, alinhada com os imperativos globais de sustentabilidade. Assim, é essencial buscar um equilíbrio entre a necessidade de regulamentação eficaz e a facilitação do crescimento e desenvolvimento do setor de investimentos sustentáveis no Brasil.
Rumo a um Futuro Sustentável
Em síntese, a transição para um futuro sustentável requer uma abordagem holística e integrada, que transcenda os limites convencionais da gestão empresarial. Esta abordagem deve abraçar os aspectos interconectados dos desafios ambientais, sociais e econômicos enfrentados globalmente. Compreender as nuances entre ESG e sustentabilidade é fundamental para moldar estratégias empresariais que promovam não apenas o crescimento econômico, mas também o bem-estar coletivo.
Nesse contexto, empresas e investidores desempenham um papel crucial ao adotar uma abordagem colaborativa. Ao integrar práticas sustentáveis em seus modelos de negócios e decisões de investimento, eles contribuem significativamente para a construção de um mundo mais justo e equitativo para as atuais e próximas gerações. Essa mudança de paradigma não apenas fortalece a resiliência das organizações diante dos desafios emergentes, mas também impulsiona a inovação e a criação de valor a longo prazo.
A verdadeira sustentabilidade não é apenas uma tendência passageira, mas uma necessidade premente para a preservação da vida em nosso planeta e combater os efeitos das mudanças climáticas. Ao promover práticas responsáveis e transparentes, as empresas não só mitigam riscos, mas também se posicionam como agentes positivos de transformação. Da mesma forma, os investidores têm o poder de direcionar o capital para projetos e empresas que contribuam efetivamente para um desenvolvimento sustentável.
Portanto, ao unir forças em prol da sustentabilidade, podemos criar um legado significativo para as gerações futuras. É por meio dessa colaboração e comprometimento que podemos verdadeiramente alcançar um mundo mais justo, próspero e sustentável para todos.
*Olga Martins Wehb é socióloga e Consultora Sênior no CBC.
Fontes:
FGV: https://portal.fgv.br/artigos/seu-esg-e-sustentavel
Itforum: https://itforum.com.br/noticias/demanda-esg-brasil-provedores
Portal Indústria: https://www.portaldaindustria.com.br/industria-de-a-z/esg-o-que-e/
Integridade ESG: https://integridadeesg.insightnet.com.br/evitando-o-greenwashing/