Guilherme Syrkis falou na COP28 junto com os prefeitos de Niterói, Axel Grael, e o de Belém, Edmilson Rodrigues
Apesar de uma maior sinergia entre o terceiro setor e os governos, apenas 30 municípios do Brasil contam com planos de Adaptação e de Mitigação Climática. O dado foi revelado, na última quinta-feira (30/11), pelo diretor-executivo do Centro Brasil no Clima (CBC), Guilherme Syrkis, na COP28, em Dubai, durante o painel “O papel vital da colaboração entre sociedade civil, estados e municípios na implementação da NDA brasileira”. “Temos cerca de 5.700 municípios. Então, vejam o desafio enorme que há pela frente. É preciso envolver as universidades locais e criar projetos para formar massa crítica, capital intelectual para o desenvolvimento desses planos”, pontuou. Syrkis falou ainda sobre atração de investimentos para os fundos climáticos e demonstrou preocupação com os projetos de infraestrutura do Governo federal nas áreas de petróleo e de gás.
Ao lado dos prefeitos de Niterói (RJ), Axel Grael, e de Belém (PA), Edmilson Rodrigues, Guilherme Syrkis revelou um dado de uma pesquisa que o CBC pretende divulgar no ano que vem e que, segundo ele, demonstra a “carência enorme que o país tem em capacitar”. Mas, nem tudo está perdido, garantiu o diretor-executivo do think-tank brasileiro. Ele destacou que os estados do Pará e de Minas Gerais conseguiram criar uma governança que fez com que projetos de adaptação e de mitigação climática evoluíssem. Em contrapartida, Alagoas e Sergipe estão na contramão. “Eles não estão bem e a sociedade civil deve se juntar aos governos desses estados e dos seus municípios para auxiliar. É importante também que exista uma integração entre os governos para criar perenidade nas políticas públicas”, alertou.
Sobre como atrair investimentos, Syrkis comentou que é preciso criar um lastro financeiro e garantir contrapartidas para os investidores. “Ninguém quer emprestar sem que haja uma boa análise de riscos”, acrescentou. Como exemplo de contrapartida do Governo federal, o líder do CBC citou o Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC. “É importante que, nesse grande projeto, a gente inclua obras de adaptação e de mitigação. O que nos preocupa é que esse PAC foi vendido como o PAC Verde, mas ele é 63% cinza, ou seja, vai tudo para o petróleo”, salientou. De acordo com ele, a União terá que se adaptar para dar exemplo e não perder legitimidade já que o Brasil será a sede da COP30, que vai acontecer, em 2025, em Belém do Pará. “Não se trata apenas de criticar o Governo Lula, até porque o MMA está fazendo um bom trabalho com adaptação”, declarou.
Como representante da sociedade civil, Syrkis disse também que é preciso criar uma plataforma integrada entre municípios, estados e Governo federal com as melhores práticas e com informações, indicadores e contatos para auxiliar na instituição dos planos de Adaptação e de Mitigação. “Temos discutido muito essa questão entre os governadores. O CBC conta com o programa ‘Governadores pelo Clima’ e eu, particularmente, tenho tido conversas com o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, para criarmos uma melhor forma de capacitar estados e municípios para que desenvolvam os seus planos climáticos”, informou. O painel desta quinta foi mediado pela gerente Institucional do Instituto Talanoa, Marina Caetano, e contou ainda com a participação da diretora-associada de Engajamento Político da CDP América Latina, Míriam Garcia.