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Confira o Relatório Executivo do CBC e saiba mais sobre nossa atuação em 2023. Ao longo de 54 páginas, apresentamos as ações de advocacy, destacamos nossa forte atuação na área de transição justa, ressaltamos as iniciativas desenvolvidas em prol do Consórcio Brasil Verde e celebramos a atuação da equipe do The Climate Reality Project Brasil, através do projeto Operação COP, na formação de novas lideranças.

A colaboração com importantes iniciativas do Climate Investment Funds (CIF), o projeto pioneiro de descarbonização do maior cartório do Rio de Janeiro, a realização de um grande evento com o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e a elaboração de um completo diagnóstico sobre as políticas climáticas nos 27 estados são outras ações destacadas na publicação.

Confira a carta do nosso Diretor Executivo, Guilherme Syrkis, e baixe o arquivo para a leitura do relatório na íntegra


Carta do Diretor-executivo

Recentemente, tive a oportunidade de jantar com o embaixador Rubens Ricupero e alguns amigos, a maioria da geração do milênio, os millennials. Ricupero havia acabado de relançar seu livro de memórias. O embaixador é um ser humano incrível, de tamanha simplicidade, e carrega consigo uma vasta quantidade de histórias notáveis do Brasil, tendo sido ministro do Meio Ambiente e da Fazenda, e considerado o sacerdote do Plano Real. Quando perguntado sobre quais conselhos daria aos jovens presentes, Ricupero mencionou dois: o primeiro é aprender a se comunicar, falando e escrevendo de maneira objetiva e clara. “Isso facilita muito a vida e não permite que nosso esforço seja esquecido.” O segundo é evitar ter objetivos com prazos muito longos. “Isso os tornará enfadados e provavelmente frustrados e propensos a desistir. Criar objetivos de curto e médio prazo torna mais fácil cumpri-los e manter a diligência.” Esses conselhos me tocaram profundamente, pois refletem com exatidão os desafios que encontro na gestão do CBC. 

Primeiro, não é fácil ter uma comunicação poderosa que se destaque em meio à profusão de informações e conteúdos das redes sociais, que mudam constantemente. Mas, como diz a Bíblia, “seja fiel no pouco, sobre o muito te colocarei”. Seguimos esse princípio em nosso relatório, com objetividade e clareza, divulgando o que fizemos sempre com zelo e dedicação. O segundo conselho do embaixador Ricupero também me marca, pois muitas vezes parece que estamos agindo no tático, sem um planejamento estratégico de longo prazo. Com tantas mudanças de contexto a todo instante, isso se torna um desafio. Embora compreenda a importância de um planejamento estratégico, contínuo inspirado por Ricupero, traçando objetivos de curto e médio prazo e buscando cumpri-los com todo o desvelo que temos desde 2020. 

O ano de 2023 foi o mais difícil financeiramente desde que assumimos o CBC. Nossos principais financiadores enfrentaram momentos de transição complicados, resultando em uma drástica redução de recursos e gerando enormes incertezas. Fizemos um grande esforço para diversificar e buscar alternativas, equilibrando entre criar o maior impacto seguindo a missão de uma instituição do terceiro setor e focar na prospecção de novas fontes de recursos para manter a estabilidade mínima da gestão. Tentamos harmonizar os dois, conseguindo manter colaboradores preciosos, mas infelizmente perdendo outros. 

A demanda por profissionais com experiência em mudança climática cresceu, especialmente no setor privado, tornando os salários mais competitivos. No entanto, sobrevivemos com a equipe comprometida, submetendo propostas para diversos editais em consórcio com parceiros importantes. Buscamos maximizar o maior impacto possível para honrar e cumprir nossa missão de avançar a agenda climática no primeiro ano do governo Lula, com Marina Silva como ministra do Meio Ambiente e muitos amigos queridos no governo, bem-intencionados, mas enfrentando grandes desafios. Aprendi durante minha experiência no governo federal que o maior inimigo do governo é o próprio governo. Sempre soube que o grande desafio deste governo seriam as contradições do setor de energia, especialmente petróleo e gás. 

Nesse sentido, o CBC teve um papel importante no advocacy em conjunto com outras organizações ao questionar a possibilidade de a Petrobras explorar petróleo na Foz do Amazonas e promover um debate equilibrado sobre a exploração na Margem Equatorial. Fui um dos primeiros a levantar a questão, em março de 2023, em audiência na Comissão de Meio Ambiente do Senado, gerando uma verdadeira onda de resistência ao longo do ano de 2023, que infelizmente ainda não está resolvida. 

O CBC também iniciou uma forte atuação na área de transição justa. O projeto que você lerá do ICAT sobre a análise da expansão das renováveis no Brasil foi uma semente que vem desabrochando e que, no próximo relatório de 2024, terá com certeza um espaço de grande importância nas atividades do CBC. O Consórcio Brasil Verde, que de alguma forma formalizou o movimento dos Governadores pelo Clima, foi ratificado por 15 estados pelas suas respectivas assembleias legislativas. Com muitos desafios burocráticos que uma autarquia pública enfrenta, o CBC vem, desde então, fazendo um significativo trabalho de assessoria para o consórcio, que se traduziu em inúmeras iniciativas e horas trabalhadas para destravar financiamento climático para os estados, articulação e alinhamento com as iniciativas do governo federal e priorização de questões de adaptação, com foco em gestão dos recursos hídricos e política de habitação. 

Outro trabalho valioso realizado pelo CBC – mais uma semente – foi a elaboração de uma espécie de raio X sobre as políticas climáticas nos 27 estados brasileiros. Esse estudo completo vem sendo utilizado pelos estados e pela imprensa de várias formas, o que nos encorajou muito a abrir uma nova frente, que por enquanto estamos chamando de Observatório dos Estados, e sobre a qual você ainda ouvirá muito. 

O Climate Reality Project deu uma guinada em uma das áreas que mais me dá prazer: a formação de novas lideranças. O projeto Operação COP, conduzido de maneira bastante descentralizada, vem não apenas formando lideranças climáticas no Brasil, mas também forjando nossas lideranças internas no CBC. Da mesma forma, as Cartas dos Direitos Climáticos, trabalho que há algum tempo a equipe do Climate vem desenvolvendo zelosamente, ganham cada vez mais musculatura e importância para a instituição. Essa iniciativa dá voz a quem mais precisa neste terrível contexto das mudanças climáticas. É o tipo de trabalho que sabemos que é difícil, mas que precisa ser feito. 

Além disso, o CBC colaborou com importantes iniciativas do Climate Investment Funds (CIF), realizou um pequeno projeto pioneiro de descarbonização do maior cartório do Rio de Janeiro, mostrando que o setor de serviços também deve se comprometer com as metas climáticas, e criou articulações relevantes com o Poder Judiciário. Tudo isso e mais você encontrará nas próximas páginas. 

Escrevo este texto na penúltima semana de julho de 2024. Tanta coisa aconteceu desde o Réveillon. Este primeiro semestre foi excelente para o CBC, colhendo os frutos dos vários editais mencionados anteriormente que aplicamos no momento de aperto de 2023. No entanto, o atentado contra Donald Trump parece ter criado um obstáculo insuperável para os democratas e para a reeleição, até então pouco entusiasmante, de Joe Biden, que enquanto escrevo acaba de deixar a corrida presidencial. Se Trump, com seu discurso drill, baby, drill, for eleito, nossa abordagem precisará se adaptar novamente. Contudo, inspirados pelos conselhos de Ricupero, manteremos nossa comunicação clara e objetiva, e focaremos em objetivos de curto e médio prazo para garantir que, mesmo diante das adversidades, nosso compromisso com o avanço da agenda climática no Brasil permaneça inabalável. 

​​​Guilherme Syrkis

Diretor-executivo do Centro Brasil no Clima