A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu, com unanimidade dos países participantes, a Agenda 2030 e os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Esses incluem, entre outros pontos, combater as mudanças climáticas, energia limpa e acessível, geração de empregos e crescimento econômico, cidades e comunidades sustentáveis, redução das desigualdades, educação de qualidade.
Os efeitos socioeconômicos da atual crise sanitária são e serão severos, retrocedendo níveis de miséria, aprofundando desigualdades e expondo ainda mais a parcela vulnerável da população a intempéries de todo tipo. Superar esta crise exige convergência estratégica de esforços, de modo a viabilizar um futuro sustentável, inclusivo e próspero para as atuais e futuras gerações.
De acordo com os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), antes da atual pandemia o Brasil contava com aproximadamente 38 milhões de trabalhadores na informalidade – 41% do total dos trabalhadores ocupados. A nível nacional, houve aumento da desigualdade nos últimos quatro anos, com queda de 17% na renda do trabalho da metade mais pobre da população. No estado do Rio de Janeiro, 14,5% da população do estado estava desempregada no primeiro trimestre.
Na capital do estado, quase um quarto da população vive em favelas. 80% dos trabalhadores dessas são autônomos e perderam renda com a atual crise. Essa população sofre com acesso limitado a diversos serviços básicos, como energia acessível. O Brasil tem a quinta energia mais cara do mundo (FIRJAN, 2017) e no Rio a tarifa subiu 105% na última década (O Globo, 2019). A população de baixa renda não contemplada com a tarifa social arca com o mesmo preço da energia que a população mais abastada, inviabilizando o acesso de muitos.
De acordo com o Banco Mundial, para conectar famílias pobres, soluções como iluminação solar, sistemas solares domésticos e as micro grids são cruciais para acabar com a pobreza. O uso de energia solar provou ser um método eficaz para aliviar a pobreza em comunidades locais no passado. De acordo com a Nature, na China, a energia solar garantiu um suprimento energético a 800 mil famílias que viviam na pobreza e, em determinado município, as instalações solares forneceram às famílias uma renda anual adicional de mais de US$ 400.
A energia solar deve ser encarada como uma oportunidade para gerar benefícios para a população, tendo em vista que: (i) na última década, os custos dos equipamentos de geração solar fotovoltaica caíram 85% (BNEF, 2019); (ii) entre as fontes renováveis, a solar é líder na geração de empregos (IRENA, 2019); (iii) aproxima o consumidor do processo de geração de energia, contribuindo assim para uma maior conscientização ambiental; (iv) um sistema fotovoltaico pode reduzir em até 95% os gastos dos consumidores com energia elétrica.
O contexto apresenta uma excelente oportunidade para se viabilizar o aproveitamento solar para a superação das crises múltiplas que o mundo, e em especial o Rio de Janeiro, passa. Desenvolver cooperativas solares em comunidades de baixa renda é uma das mais interessantes opções a mesa, visto que além de contribuir para o acesso à energia renovável, gera emprego, renda e aprendizado. Embora possa se trabalhar, a princípio, numa escala micro – numa vila ou em uma pequena comunidade – o modelo pode ser replicado e se expandir em grande escala.
Nas ensolaradas favelas cariocas, surge uma nova iniciativa que visa a promoção do desenvolvimento sustentável. A organização sem fins lucrativos Revolusolar promove uma metodologia que une geração distribuída de energia solar, capacitação profissional para os moradores das comunidades como eletricistas e instaladores solares e oficinas infantis sobre sustentabilidade. Finalista em prêmio global da ONU, a iniciativa planeja construir a primeira cooperativa de energia solar em uma favela do Brasil.
Além de ser mais viável técnica e economicamente do que as instalações individuais, esse modelo reflete as tradições de coletividade, cooperação e autogestão das favelas cariocas. Para viabilizar o projeto piloto, serão instaladas 58 placas solares no telhado da Associação de Moradores da Babilônia. O público-alvo do projeto será o segmento dos moradores das favelas da Babilônia e do Chapéu Mangueira que paga pela energia de forma regular.
Quando a usina começar a gerar eletricidade, os moradores terão suas contas de luz reduzidas pelo uso dos créditos de energia gerados nas placas solares. Parte das economias obtidas pelos moradores irá para um fundo comunitário, que remunerará os trabalhadores locais envolvidos e contribuirá para o financiamento de novas instalações, levando o benefício da energia solar para mais famílias da comunidade.
A solução da cooperativa harmoniza com a favela. Este modelo está alinhado à proposta do financiamento coletivo, que é aberto, horizontal e transparente. Assim, a Revolusolar se aliou à Benfeitoria para viabilizar o projeto de forma coletiva. Com apenas R$20 você pode contribuir para esse momento histórico da luta climática e contra a pobreza. Para ler mais sobre, acesse https://benfeitoria.com/revolusolar.
* Autores:
Alexandre Batista – Coordenador de projetos do CBC
Antônio Pedro Lima – Economista e doutorando do Instituto de Economia da UFRJ
Eduardo Ávila – Economista pela UFRJ e Diretor Executivo na Revolusolar