Em um movimento de governança inédito, Centro Brasil no Clima lidera processo que culminou na entrega das Cartas dos Biomas em Brasília na última sexta-feira, consolidando meses de articulação técnica, transformando o diálogo federativo em um ativo estratégico do Brasil para as negociações climáticas globais.
Em Brasília, na manhã da última sexta-feira (31 de outubro de 2025), a entrega das Cartas dos Biomas ao embaixador André Corrêa do Lago e à CEO da COP30, Ana Toni, marcou a culminação de um trabalho técnico-institucional de meses liderado pelo Centro Brasil no Clima (CBC). Mais do que um ato político dos governadores, o evento representou a concretização de uma estratégia que o CBC vem estruturando como assessor do Consórcio Brasil Verde: transformar a governança climática subnacional em um ativo estratégico do Brasil para as negociações globais.
O CBC foi responsável pela organização de diversos eventos preparatórios em 3 biomas diferentes (Pampa, Pantanal e Mata Atlântica), além de ter trabalhado diretamente na curadoria e elaboração dos textos das cartas que foram entregues à Presidência da COP30.
Presente no evento, o diretor executivo do CBC, Guilherme Syrkis, testemunhou a materialização de uma tese que a organização defende há anos: o federalismo climático brasileiro não é uma utopia conceitual, mas uma via de implementação em pleno curso, com resultados mensuráveis e reconhecimento institucional crescente: “Estar aqui hoje, vendo os governadores entregarem as cartas que organizamos e ajudamos a construir, é a prova de que o nosso trabalho de ‘tradutor’ e ‘articulador’ entre a ponta e o poder central funciona. É o federalismo climático deixando de ser um conceito para virar prática institucional”, afirmou ele.
As cartas entregues são o resultado direto da estruturação metodológica conduzida pelo CBC em parceria com o Consórcio Brasil Verde nos estados coordenadores dos biomas Pampa (Rio Grande do Sul), Pantanal (Mato Grosso do Sul) e Mata Atlântica (Paraná). O processo reuniu secretarias estaduais, sociedade civil e especialistas em eventos que consolidaram avanços, desafios e demandas territorializadas para a agenda climática nacional.
O evento de Brasília marcou a conclusão do ciclo de COPs dos Biomas, que incluiu também as conferências do Cerrado e da Caatinga, consolidando uma agenda climática integrada que abrange todos os principais biomas brasileiros.
Para o CBC, o evento valida uma aposta estratégica: em um cenário de multilateralismo enfraquecido e urgência climática crescente, a ação subnacional não é um caminho paralelo, mas a via principal para transformar compromissos em políticas concretas.
A Metodologia CBC: Traduzindo Território em Política
O diferencial do CBC nesse processo não foi apenas apoiar, mas liderar a metodologia de construção das cartas, como organizador e curador técnico em todas as etapas. Enquanto muitas organizações da sociedade civil atuam como observadores ou fiscalizadores das políticas climáticas, o CBC assumiu o papel de articulador operacional e estratégico, estruturando eventos, facilitando diálogos entre atores com agendas distintas e trabalhando diretamente nos textos que consolidaram as demandas territoriais.
A organização estruturou workshops participativos nos três estados, garantindo que a diversidade territorial. Na pré-COP do Pantanal, o CBC estruturou discussões sobre o fundo climático para o bioma e a governança integrada entre MS e MT. No Paraná, a organização apoiou a consolidação da Carta de Curitiba com compromissos de restauração para a Mata Atlântica. No Rio Grande do Sul, o CBC facilitou a integração entre reconstrução pós-tragédia e regularização ambiental como prioridades inseparáveis.
“Nossa função foi estruturar a metodologia, organizar os eventos e trabalhar na redação para que realidades distintas pudessem dialogar e consolidar suas prioridades de forma coesa”, explica Guilherme Syrkis. “Atuamos como parceiro técnico que permitiu ao Consórcio Brasil Verde transformar discussões regionais em documentos políticos estratégicos que chegaram à mesa da Presidência da COP30.”
O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, presidente do Consórcio Brasil Verde, sintetizou a importância dessa abordagem ao afirmar que “são os governos estaduais e municipais que implementam planos de conservação, restauração e adaptação. O país precisa sair da COP com um plano que envolva os três níveis da federação”. A fala de Casagrande reflete uma percepção crescente entre gestores públicos: as negociações globais só ganham concretude quando chegam aos territórios, e é nos estados que as políticas climáticas se tornam realidade ou ficam no papel.
O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, presidente do Consórcio Brasil Verde, sintetizou a importância dessa abordagem ao afirmar que “são os governos estaduais e municipais que implementam planos de conservação, restauração e adaptação. O país precisa sair da COP com um plano que envolva os três níveis da federação”. A fala de Casagrande reflete uma percepção crescente entre gestores públicos: as negociações globais só ganham concretude quando chegam aos territórios, e é nos estados que as políticas climáticas se tornam realidade.
O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, reconheceu essa dinâmica ao receber as cartas, destacando que “acordos internacionais só se tornam reais quando chegam às mãos de governos locais, mas também da sociedade civil e do setor privado”. A declaração reforça o modelo de governança climática que o CBC vem estruturando: uma arquitetura institucional que conecte dados técnicos, articulação política e capacidade de implementação no território.
Do Diálogo à Ação: O Mutirão do Código Florestal
A recepção positiva das cartas pela Presidência da COP30 gerou uma resposta concreta do governo federal. No mesmo evento, o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) e o Serviço Florestal Brasileiro (SFB) anunciaram o lançamento do Mutirão Nacional para Regularização Ambiental, uma mobilização que começará no dia 4 de novembro em 12 estados para acelerar o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e os Programas de Regularização Ambiental (PRAs). A iniciativa alinha-se diretamente com a proposta dos “mutirões” da Presidência da COP30 — do discurso à prática, da intenção à implementação.
Francisco Gaetani, secretário extraordinário para a Transformação do Estado no MGI, ressaltou o potencial transformador da iniciativa: “O mundo está olhando para o Brasil porque enxerga na nossa experiência com o Cadastro Ambiental Rural soluções para desafios ambientais e fundiários que muitos países enfrentam”.
Para o CBC, o anúncio demonstra um diálogo de via dupla bem-sucedido: os estados levaram demandas baseadas em evidências (construídas com apoio do CBC), e a União respondeu com compromissos de implementação.
O CBC como Hub: Conectando Projetos, Dados e Políticas
O papel do CBC nesse processo vai além da organização de eventos e curadoria de textos. A organização atua como um hub técnico-político que conecta múltiplos projetos e atores em uma rede integrada de governança climática subnacional. O Anuário de Governança Climática Subnacional, produzido pelo CBC, forneceu a base de dados que conferiu robustez técnica às demandas apresentadas nas cartas dos biomas. O apoio à articulação dos Governadores pelo Clima criou os canais políticos para que essas demandas chegassem ao poder central. E projetos como o MRV Climático de Minas Gerais demonstram que a organização não apenas diagnostica problemas, mas constrói soluções escaláveis.
A CEO da COP30, Ana Toni, destacou que pela primeira vez o Brasil incluiu em sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) o papel da governança subnacional, um reconhecimento institucional do protagonismo de estados e municípios na agenda climática global. Para o CBC, esse reconhecimento valida anos de trabalho técnico-institucional para posicionar a governança subnacional como eixo central da implementação climática brasileira.
Próximos Passos: Da Entrega à Implementação
A entrega das cartas abre um novo ciclo de trabalho para o CBC. O desafio agora é transformar os compromissos consolidados nas cartas em projetos financiáveis e monitoráveis, conectando os estados a oportunidades de financiamento climático internacional.
“A entrega das cartas não é o fim, é o começo. Agora nosso papel é ajudar os estados a transformar essas ambições em projetos financiáveis e monitoráveis. O próximo passo é consolidar um mecanismo permanente de diálogo federativo que o Brasil poderá apresentar como legado da COP30”, afirmou Guilherme Syrkis.
O “Banco de Soluções Subnacionais”, iniciativa que conta com a participação do CBC e será apresentado na COP30, busca consolidar experiências bem-sucedidas implementadas pelos estados brasileiros, criando uma base de referência para políticas climáticas eficazes e replicáveis. A proposta se alinha com a proposta da Presidência da COP30 de apresentar o Brasil como “provedor de soluções climáticas” que combinam conservação e prosperidade. Governança climática eficaz é aquela que conecta preservação ambiental, desenvolvimento econômico e justiça social no território.
Governança Técnica que Gera Resultados Institucionais
A articulação liderada pelo CBC, em parceria com o Consórcio Brasil Verde e o Consórcio Nordeste, demonstra que investimento em governança técnica e diálogo político gera resultados institucionais concretos e abre portas para financiamento climático. O modelo de atuação do CBC — baseado em organização, curadoria, dados e soluções práticas — oferece aos financiadores e formuladores de política uma arquitetura de implementação segura, transparente e com resultados territorializados.
Ao estruturar a construção de uma voz unificada e qualificada para os estados brasileiros, o Centro Brasil no Clima não apenas dá visibilidade ao seu próprio trabalho, mas demonstra como se constrói uma arquitetura robusta para a política climática nacional: de forma colaborativa, baseada em evidências e com os pés fincados nos territórios. O evento de Brasília marca um ponto de virada na trajetória da organização — do trabalho técnico estruturante à presença institucional reconhecida como facilitadora estratégica da governança climática subnacional brasileira.
Texto: Gabriel Siqueira
Fotos: Rafael Medelima/SECOM COP30 e Guilherme Syrkis/Centro Brasil no Clima


