Olga Martins Wehb*
Fonte: Folha de São Paulo
O cenário da mineração brasileira pode ser mais desafiador do que se supunha. Uma pesquisa da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) traça um panorama inquietante: a exploração plena das áreas de mineração legalmente ativas no Brasil poderia culminar na emissão de 2,5 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2 eq.), representando cerca de 5% de todas as emissões globais de gases de efeito estufa resultantes de atividades humanas. Esse dado agrega uma nova dimensão à influência potencial da indústria de mineração na mudança climática global e oferece um entendimento renovado dos desafios ambientais que o Brasil e o mundo têm pela frente.
Conforme o estudo, publicado na revista científica Communications Earth & Environmental, o Brasil possui atualmente 5,4 milhões de hectares de minas legalmente ativas, uma área ligeiramente menor do que a da Croácia, que abrange 5,6 milhões de hectares. Estas minas estão dispersas por todo o território nacional, com a maioria situada nas regiões subtropicais e tropicais, onde se estima a existência dos maiores estoques de carbono, equivalentes a 1,05 Gt de CO2 eq. Esta informação evidencia a seriedade dessas emissões para o planejamento de estratégias de mitigação eficientes. Em um mundo onde as mudanças climáticas estão se intensificando, este estudo lança luz sobre a urgência de se abordar a questão das emissões de carbono no contexto da mineração.
A exploração intensiva e a modificação do solo por meio da mineração podem trazer consequências duradouras e potencialmente devastadoras para o meio ambiente, enfatizando a necessidade de adotar práticas mais sustentáveis.
A pesquisa também menciona a potencialidade dos chamados “Tecnossolos” como parte da solução baseada na natureza, com a construção de solos a partir de resíduos das próprias minas, mas ressalta a necessidade de mais estudos para avaliar a efetividade dessa estratégia. A investigação destaca a necessidade de uma reflexão mais profunda sobre a adaptação e a evolução da mineração diante das crescentes ameaças das mudanças climáticas.
Olga Martins Wehb é socióloga e consultora sênior no CBC.