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Olga Martins Wehb*

A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) é um tratado da Organização das Nações Unidas (ONU) estabelecido durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como ECO-92, realizada no Rio de Janeiro em junho de 1992. A CDB tem como principais objetivos a conservação da diversidade biológica, o uso sustentável da biodiversidade e a repartição justa e equitativa dos benefícios provenientes da utilização dos recursos genéticos. Ela aborda a biodiversidade em três níveis: ecossistemas, espécies e recursos genéticos. É crucial compreender essa diversidade multifacetada e suas interações para antecipar as mudanças relacionadas à biodiversidade sob a influência das alterações climáticas.

A biodiversidade desempenha um papel fundamental na estabilidade dos ecossistemas e no fornecimento de serviços ecossistêmicos essenciais. No entanto, é necessário estudar mais a fundo os impactos das mudanças climáticas, especialmente nos ecossistemas tropicais e subtropicais, que possuem uma alta diversidade biológica.

Os hotspots de biodiversidade, áreas com a maior diversidade de espécies, são particularmente vulneráveis às atividades humanas. Essas áreas abrigam uma quantidade significativa de espécies e são essenciais para a manutenção da biodiversidade global, mas ainda apresentam grandes lacunas de conhecimento. Investir em pesquisas nessas regiões, principalmente em áreas remotas e bem preservadas do Brasil, é fundamental.

No entanto, as mudanças climáticas representam uma ameaça significativa à biodiversidade em todo o mundo, incluindo o Rio de Janeiro. Exemplos concretos ressaltam os desafios enfrentados na região, como o desmatamento e a redução do bioma Mata Atlântica, os impactos nas florestas estacionais e a elevação do nível do mar. O aumento da temperatura média, as variações na precipitação e os eventos climáticos extremos afetam diretamente os ecossistemas cada vez mais fragilizados, levando a desequilíbrios ecológicos e impactando a sobrevivência das espécies.

No Rio de Janeiro, a conservação da vegetação nativa tem papel crucial na preservação da biodiversidade e na manutenção dos serviços ecossistêmicos. A expansão urbana e a predominância da agropecuária têm levado à redução e fragmentação da vegetação original. É necessário promover cada vez mais estratégias de conservação e restauração da vegetação nativa, considerando a proteção de áreas naturais, o manejo adequado das áreas protegidas, práticas sustentáveis na agropecuária e o planejamento urbano.

No contexto do Rio de Janeiro, os ecossistemas costeiros, como manguezais e recifes de coral, estão sofrendo notáveis impactos das mudanças climáticas. O aumento da temperatura da água e a acidificação dos oceanos comprometem a diversidade biológica e a resiliência desses ecossistemas. Além disso, eventos climáticos extremos causam erosão costeira, ameaçando a integridade dos manguezais e das áreas úmidas costeiras.

Outro exemplo importante no Rio de Janeiro é a Floresta da Tijuca, que abriga uma ampla variedade de espécies endêmicas e ameaçadas. As mudanças climáticas têm um impacto direto nessa floresta, alterando os padrões de chuva e aumentando o risco de incêndios florestais. Esses eventos podem levar à perda de biodiversidade, bem como à redução da capacidade de absorção de carbono, agravando ainda mais as mudanças climáticas e consequentemente as populações vulneráveis do entorno.

Além dos impactos locais, é importante ressaltar que a biodiversidade e as mudanças climáticas estão intrinsecamente ligadas em escala global. A perda de biodiversidade afeta a capacidade dos ecossistemas de se adaptarem às mudanças climáticas, que podem acelerar a extinção de espécies.

Diante desse cenário, é fundamental adotar medidas de mitigação e adaptação, assim como, de conservação e restauração (ex: Pacto de Restauração da Mata Atlântica, Mutirão Reflorestamento e Programas Habitacionais e Sustentáveis) para enfrentar os desafios da biodiversidade e das mudanças climáticas. A necessidade de melhor compreender os riscos não impede que ações de resposta sejam tomadas o mais rapidamente possível, a fim de reduzir a potencial exposição e vulnerabilidades.

É importante ressaltar a proteção de áreas naturais, a restauração de ecossistemas degradados, a criação e o fortalecimento de mosaicos de Unidades de Conservação (UC) e a promoção de práticas sustentáveis de uso da terra como medidas estratégicas cruciais. Além disso, é essencial promover a conscientização pública, investir em pesquisa científica e fortalecer a cooperação entre governos, organizações e comunidades locais.

No Rio de Janeiro, a implementação de políticas e práticas sustentáveis, como a expansão de áreas protegidas, a gestão adequada dos recursos hídricos e a promoção de energias renováveis são passos importantes para enfrentar os desafios da biodiversidade e das mudanças climáticas. Ao tomar medidas concretas, podemos garantir um futuro mais sustentável e equitativo para as gerações presentes e futuras.

Além disso, é necessário fortalecer a resiliência dos ecossistemas diante das mudanças climáticas. Isso pode ser alcançado por meio do manejo adaptativo, que envolve a implementação de práticas que permitam que os ecossistemas se ajustem às novas condições climáticas. Por exemplo, a restauração de áreas degradadas e a criação de corredores ecológicos podem promover a conectividade entre habitats, facilitando a movimentação de espécies em resposta às mudanças climáticas.

Outra estratégia importante é a integração da conservação da biodiversidade e das ações de mitigação das mudanças climáticas. A proteção de ecossistemas naturais, como florestas e áreas úmidas, não apenas preserva a biodiversidade, mas também contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa, pois esses ecossistemas atuam como sumidouros de carbono.

No contexto do Rio de Janeiro, é fundamental aproveitar as oportunidades oferecidas pela cidade para promover a sustentabilidade e a conservação da biodiversidade, pois temos diversas experiencias e estudos no âmbito municipal (PCRJ) e estadual (ERJ) a serem implementadas e recuperadas. A existência de áreas protegidas, como o Parque Nacional da Tijuca e as Unidades de Conservação estaduais e municipais, oferece uma base sólida para a preservação da biodiversidade local e outros projetos.

Conforme o especialista e economista Bernardo Strassburg, do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS) e PUC-Rio, é importante destacar “a necessidade de estabelecer metas e números claros para orientar os esforços dos países na restauração de ecossistemas. Definir objetivos mensuráveis permite direcionar recursos de forma eficaz, medir o progresso e promover a colaboração internacional. A restauração de ecossistemas desempenha um papel essencial na recuperação de áreas degradadas, na promoção da biodiversidade e na prestação de serviços ecossistêmicos vitais para a sociedade”. Portanto, estabelecer metas claras é um passo fundamental para impulsionar a ação e mobilizar recursos em prol da restauração ecológica, contribuindo para a conservação da biodiversidade e a sustentabilidade ambiental.

Além disso, a conscientização pública e informação desempenham um papel crucial. É importante envolver a população, educar sobre a importância da biodiversidade e das mudanças climáticas e incentivar a adoção de práticas sustentáveis em todos os setores da sociedade.

Em síntese, a interconexão entre biodiversidade e alterações climáticas demanda respostas coordenadas em nível global, regional e local. No cenário do Rio de Janeiro, é imprescindível intensificar as táticas de preservação da biodiversidade, favorecer a capacidade adaptativa dos ecossistemas e procurar alternativas sustentáveis para os obstáculos apresentados pelas alterações climáticas. Apenas através de um esforço coletivo e da sinergia entre governos, academia, setor empresarial, terceiro setor e comunidades, conseguiremos assegurar um futuro com menores impactos, onde a biodiversidade seja estimada e resguardada, as populações vulneráveis menos impactadas, contribuindo para a vitalidade do planeta e a prosperidade de todas as espécies.

*Olga Martins Wehb é socióloga e consultora sênior do Centro Brasil no Clima

Fonte: Plano de Adaptação as Mudanças Climáticas do Estado do Rio de Janeiro

https://www.iis-rio.org/wp-content/uploads/2021/11/PAERJ-Relato%CC%81rio-Final-compactado.pdf

http://mudancasdoclima.ambiente.rj.gov.br