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Encontro da iniciativa Governadores Pelo Clima, realizado nesta quarta (07), reuniu o embaixador da União Europeia, Secretários de Estado, especialistas em gestão hídrica e governadores brasileiros. Entre eles, Eduardo Leite (RS), João Dória (SP) e Renato Casagrande (ES)

Em meio a uma grave pandemia e imerso em um contexto de deterioração ambiental e alto índice de desemprego, o Brasil enfrenta simultaneamente uma crise hidroenergética, com a expectativa dos reservatórios hidrelétricos do Sul e Sudeste terminarem este mês com os níveis mais baixos registrados desde 2001. Este e outros assuntos da pauta climática, econômica, tecnológica e social no Brasil, foram discutidos nesta quarta-feira (07), em um encontro virtual de 02 horas que reuniu governadores do Sul e Sudeste, Secretários de Estado e especialistas. Realizado pela coalizão Governadores Pelo Clima, a reunião foi promovida pelo Centro Brasil no Clima (CBC) e contou com governos estaduais e parceiros internacionais, como a União Europeia.

Além das presenças dos governadores Renato Casagrande (ES), Eduardo Leite (RS) e João Doria (SP) e de secretários dos sete estados que compõem as duas regiões (MG, ES, RJ, SP, PR, SC, RS), o evento também contou com o Embaixador da União Europeia no Brasil, Ignacio Ybáñes, e com o Ministro na Embaixada da República Federal da Alemanha em Brasília, Marc Bogdahn.

Entre os especialistas presentes no encontro, nomes como Luiz Eduardo Barata, ex-Diretor do Operador Nacional do Sistema (ONS); João Paulo Capobianco, do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS); Kristina Kramer, Head of Secretariat German-Brazilian Energy Partnership (GIZ), e Larissa Rodrigues, do Instituto Escolhas.

Os governadores presentes foram unânimes em sublinhar o papel dos Estados no protagonismo da ação climática. “O governo brasileiro poderia ter uma imagem externa muito positiva se tivesse agido, se tivesse dado importância à preservação, à recuperação, à fiscalização dos desmatamentos ilegais e à fiscalização com relação às queimadas. Então a atuação dos governadores pode complementar de alguma maneira e pode até fazer com que o governo federal dê alguma atenção a esse tema”, avaliou o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande.

Para o governador de São Paulo, João Doria, “estamos num verdadeiro estado de emergência climática, onde decisões ousadas precisam ser tomadas, e tomadas imediatamente, reconhecendo a importância do Acordo de Paris e de todas as iniciativas ao redor do mundo para zerar as emissões de carbono”.

Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, “o aumento do desmatamento, o crescimento dos índices de pobreza e desemprego, e a crise hidroenergética que nós estamos testemunhando já mostram que o tempo de acender o alerta passou. É preciso agir!”

Para Guilherme Syrkis, Diretor-Executivo do CBC, a emergência climática já está se refletindo intensamente em nossa crise hidroenergética e os tomadores de decisão “estão aumentando o problema”. Para ele, a aprovação da MP da Eletrobrás com a obrigatoriedade de contratação de térmicas a gás natural, sob o argumento de estabilizar o volume de reservatórios para garantir a segurança energética, vai na “contramão do bom senso, porque as térmicas demandam um consumo enorme de água, vão aumentar consideravelmente as nossas emissões e pesarão ainda mais o bolso do consumidor”. Para ele, modernizar as regras do setor elétrico, aumentar o volume de renováveis e ter um plano consistente de recuperação florestal são os principais caminhos para resolver de forma eficiente a questão.

Também presente no encontro e parceiro do Brasil em diversas iniciativas de mitigação da crise do clima, a União Europeia marcou presença no encontro através do Embaixador Ignacio Ybáñes, que reforçou que “nos últimos meses, muitas coisas mudaram no cenário internacional, o que nos leva a um otimismo cauteloso sobre as chances de um acordo ambicioso na próxima reunião de alto nível, a COP26 em glasgow, em novembro”.

Os debates e encaminhamentos foram mediados por Sérgio Xavier, articulador da iniciativa Governadores Pelo Clima, do CBC, que pontuou: “É preciso focar em um novo modelo que não apenas construa uma sociedade sustentável do ponto de vista ambiental e econômico, mas também garanta a inclusão, a regeneração ambiental e a regeneração social.”

Especialistas apontam caminhos

No encontro de hoje, especialistas na questão energética apresentaram análises técnicas e apontaram caminhos possíveis para a garantia da segurança energética no Brasil, sem precisar recorrer à geração por meio de combustíveis fósseis. Larissa Rodrigues, do Instituto Escolhas, trouxe dados importantes sobre o cenário no Brasil. “Os combustíveis fósseis têm sido usados como remédios para sair da crise. Mas são remédios errados, pois estamos passando pelos mesmos problemas do passado”, enfatizou a especialista, que apresentou dados de que as termelétricas são 26% mais caras que todas as outras fontes de geração de energia, além de não nos permitirem bater metas de descarbonização. “Investindo em mais térmicas, vamos agravar a questão das chuvas, dos reservatórios, piorar a seca e aumentar ainda mais a inflação, que está afetando o bolso do cidadão”, alertou.

João Paulo Capobianco, do IDS, defendeu que os cenários da evolução das emissões dos gases de efeito estufa são “dramáticos”, nas suas palavras. “Estamos numa linha ascendente, alinhando esforços na necessidade de reduzir em até 1,5º a temperatura, segundo o Acordo de Paris. O esforço para enfrentar a evolução desse quadro dramático envolve a busca da emissão líquida de carbono e o grande desafio ainda é remover os altos níveis de carbono”, concluiu.

Na mesma linha de abordar a descarbonização, Kristina Kramer, Head of Secretariat German-Brazilian Energy Partnership – GIZ, afirmou que, para atingir esse objetivo, precisamos focar em Hidrogênio Verde. “Olhando para o Sul, vemos parques eólicos com enorme potencial offshore e onshore. O Brasil tem um potencial enorme no litoral em dessalinização de água, agregando valor, além de ser utilizada para a produção do hidrogênio verde”, avaliou.

Luiz Eduardo Barata, ex-Diretor do ONS, completou o time de especialistas e de análises técnicas, lembrando que a participação brasileira no setor energético renovável ainda é pequena perto do potencial do país e fez uma avaliação sobre a atual crise hidroenergética, que segundo ele conjuga efeito das mudanças climáticas e políticas do setor energético: “o que nós tivemos, fruto das mudanças climáticas, foi uma redução das precipitações em todas as nossas bacias, o que fez com que o nível dos nossos reservatórios ao longo dos anos fosse sendo reduzido progressivamente. Então não é surpresa e nenhuma novidade que em 2021 nós terminemos o período chuvoso com níveis tão baixos em nossos reservatórios”, apontou.

Governadores pelo Clima

O Encontro Sul e Sudeste é o oitavo evento já realizado pela coalizão Governadores Pelo Clima nos três anos de atividades do projeto que já conta 25 signatários e visa fortalecer a governança interestadual na área de mudança do clima, meio ambiente e economia de baixo carbono, por meio de soluções inovadoras que envolvem tecnologias limpas, financiamentos verdes, instrumentos de gestão sistêmica, novos modelos de negócios e políticas públicas integradas.

Tendo como prioridade atrair investimentos em cadeias produtivas de baixo carbono e visando acelerar a geração de empregos sustentáveis em todas as regiões do país, a aliança Governadores Pelo Clima é um modelo inovador de governança climática. Articulada pelo CBC, a coalizão visa ligar urgências e vocações estaduais com oportunidades socioeconômicas e ambientais, conectando ideias e ações de setores acadêmicos, empresariais, não-governamentais, além de organizações internacionais e fontes de financiamento.

Assista abaixo o resumo do encontro: